quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Um sub-cristianismo através da Supercialidade das Conversões


John Stott, no 1o Congresso de Lausanne, descreveu com ousadia a igreja africana da seguinte forma: como um grande rio, com milhares de quilômetros de extensão e centímetros de profundidade. Esta tem sido uma das preocupações mais enfatizadas pelos missiólogos na análise do crescimento da igreja no hemisfério sul: apesar de que milhões tornaram-se cristãos e demonstraram um entusiasmo superficial e alegria contagiante, os corações não foram profundamente afetados com o evangelho. O Brasil, com seus 40 milhões de evangélicos e 200 mil templos, deve constantemente avaliar se o crescimento acelerado está sendo acompanhado com  profundidade teológica, substância espiritual, maturidade no discipulado e transformação comunitária.
Sem dúvida, a igreja evangélica brasileira fez um ótimo trabalho como obstetra, de evangelização, de parteira espiritual, gerando milhões de novos-crentes, introduzido-os ao leite materno da fé cristã. Entretanto, ela demonstra grandes dificuldades no conhecimento de Deus, no aprofundamento das dinâmicas da fé, na mortificação do pecado e no processo de transformação pessoal e comunitário. O evangélico brasileiro ainda crê e pratica um cristianismo infantil, bastante rudimentar, sem consciência da abrangência do pecado na sua vida e nas cidades.
Nos períodos de crescimento, a igreja porta-se como uma criança, cheia de vigor e energia, imaturidade e insegurança. Pais de crianças e adolescentes sabem muito bem a quantidade de gás e vitalidade (e comida!) que seus filhos liberam na prática de esportes, atividades diárias, escola, acampamentos, brincadeiras, etc. Entretanto, eles ainda são frágeis e imaturos, machucam-se e choram com freqüência, aprontam e apanham, são indefesos e dependentes. Muitos cristãos brasileiros foram superficialmente evangelizados e praticam o sub-cristianismo do aceitar-Jesus e das 12 lições de discipulado, desde que lhes garanta a entrada no trem celestial. Com os cultos de entretenimento e suprimento de necessidades, o crente continua a viver um estilo de vida pouco tocado pelos valores do evangelho, cuja semente não penetra nos terrenos mais profundos do coração humano e da sociedade brasileira.
Qual a influência da igreja evangélica na sociedade brasileira? Assista a TV e perceba que, apesar dos muitos programas evangélicos, o sensacionalismo popular dos shows de televisão e a mentalidade competitiva e derrotista do Big Brother Brasil revelam uma cultura cada vez mais brutal, sensual, animalesca e enamorada de seqüestros e da violência. Corrupção e oportunismo impregnam as estruturas de poder, inclusive a política evangélica. Não estaria longe dos princípios do reino de Deus a igreja defensora da cobiça, incentivadora dos valores materiais, protetora do forte, do famoso, do rico e do belo, e desvalorizadora do fraco, da viúva, do velho e do pobre?
O secularismo e nominalismo têm avançado nas últimas décadas. Isso é evidenciado pelo número de homens e mulheres que estão se identificando como pessoas sem religião ou sem filiação religiosa. Um dos estados mais evangelizados do Brasil, o Rio de Janeiro com 30% de evangélicos, tem 12% nesta categoria. Essa tendência acompanha outros estados do Brasil: onde mais cresce a igreja evangélica, mais cresce também os sem-religião. Quase 10% da população brasileira já se encontra nessa categoria! A maior igreja luterana da América Latina situa-se em Timbó, Santa Catarina. Timbó é uma belíssima cidade, situada no Vale do Itajaí, com um dos melhores índices de desenvolvimento humano (IDH) do Brasil. Segundo um pastor local, Disney Macedo, essa igreja, com mais de 15 mil membros, congrega apenas 40-50 pessoas nos seus cultos dominicais.
Há muitos ex-evangélicos vagando pelas nossas cidades! Por muitos anos, eles criticaram os católicos brasileiros pelo evidente nominalismo: igreja como: local de batismo, casamento, funeral e ocasiões especiais. Parece que muitos tendem a copiar esse perfil nominal de crente descomprometido, adepto de um cristianismo light e culturalmente desenraizado.

sábado, 14 de janeiro de 2012

Espiritualidade Carnal ou uma Carnalidade Espiritual


A conversão ao cristianismo leva necessariamente à mudança de atitudes: velhos vícios são abandonados e uma nova linguagem é aprendida (seria o evangeliquês?). O novo convertido experimenta fortes emoções, sente o amor de Deus e entrega sua vida a Ele. Entretanto, por mais válidas e abençoadoras que sejam essas experiências espirituais, elas não demonstram conhecimento profundo da graça salvadora e da pessoa de Deus. Reverência a Deus, dedicação à igreja e fortes emoções religiosas não florescem nos campos daquela espiritualidade que é regada pela água da vida, pela alegria do Espírito e pelo amor genuíno descoberta na cruz de Jesus. Ou seja, pessoas com aparência espiritual podem estar vazias da graça de Deus.
Isso faz com que muitos dos crentes, participantes das igrejas brasileiras, manifestem alguns tipos de pecados religiosos dissimulados, estilos de carnalidade com fachada de espiritualidade. É comum para aqueles que invejavam o carro importado ou a casa do colega de trabalho desejarem agora as mesmas coisas através de uma oração de posse, decretando prosperidade do Filho de Deus. Aqueles que anteriormente ambicionavam o cargo ou comissão do chefe do departamento, agora aspiram, humilde e avidamente, ao título de diácono ou a posição de liderança (pastor, bispo, apóstolo, etc.) com toda a voracidade do mercado de trabalho. Embora não exagerem mais na quantidade de bebida alcoólica (comida em excesso parece ser liberado nas igrejas, em geral) a glutonaria ambiciosa dos dons espirituais e cargos ministeriais mantém os desejos carnais bem vivos e ativos. É claro que tudo isso se disfarça com tanta sutileza passando despercebido para a maioria dos evangélicos, freqüentadores dos cultos sendo, imperceptível até mesmo para os pastores e líderes. 
Esses são apenas alguns exemplos do que poderia ser chamado de espiritualidade carnal ou carnalidade espiritual. Tais atitudes, embora sutis e inconscientes, corroem a comunidade cristã como câncer, devorando sua vitalidade de dentro para fora.
Há uma grande quantidade de atividade religiosa no mundo energizada pela natureza humana e pelo próprio diabo. A natureza humana pode ser facilmente mascarada e encoberta pela espiritualidade das pessoas. Padrões e atitudes que aparentemente têmcara e jeito de cristianismo podem encobrir uma carnalidade nos níveis mais íntimos das intenções e desejos do coração. O próprio Jesus disse que o joio é muito parecido com o trigo (Mt 13:24-27) . Quase todos os períodos de crescimento e avivamento na história da igreja comprovam que o trigo do evangelho fora cercado pelo joio das atividades carnais e elementos enraizados nos pecados do orgulho, vaidade, impureza, divisões, soberba, lascívia, etc.
Não é fácil separar o certo do errado, o bem do mal na igreja da atualidade. Por um lado, Deus está agindo imensamente em todo o Brasil, revitalizando velhas igrejas e especialmente plantando e fazendo crescer novas comunidades. Mas Satanás continua a plantar o joio no meio do trigo do avivamento, misturando o santo com o profano, bombardeando a luz do evangelho com os projéteis e mísseis das trevas, mesclando o bom leite espiritual com o café amanhecido da religiosidade (numa linguagem bem brasileira). A tarefa de arrancar o joio do meio do trigo – e separar a igreja verdadeira da artificial - é impossível aos homens, segundo Jesus.
O pecado se mistura em diversas doses e combinações dentro do coração, diluindo os elementos da fé, amor e santidade, implantados após a conversão pelo Espírito Santo. Ninguém é capaz de identificar e separar completamente o que vem de Deus daquilo que vem dos próprios desejos do coração humano. Há tantas combinações entre o bem e o mal, entre virtude e vício, entre aspirações por santidade e desejos da carnalidade. Nenhum cristão pode ter certeza absoluta que suas experiências sejam puramente experiências espirituais, sem que estejam poluídas pelo pecado ou misturadas à natureza humana. Nas terras do coração, as sementes da maldade fertilizam lado a lado com as sementes da Palavra. O importante é saber regar e adubar as melhores plantas.
O melhor é reconhecer humildemente as grandes semelhanças entre a espiritualidade dos religiosos e dos genuínos cristãos! Quantas vezes determinadas denominações e comunidades isolam-se dos outros grupos por considerarem-se mais espirituais, separam-se para viver em comunidades orgulhosas e egoístas! 
Quão difícil é separar o joio do trigo! O Deus onisciente, o conhecedor dos corações, é o único que tem prerrogativa para separar as ovelhas dos cabritos, estes para o castigo eterno, aqueles para a vida eterna (Mt 25:31-46).
Fonte: Sepal

Link